Como garantir a inclusão na transformação digital dos governos?

A onda da transformação chegou aos governos, às prefeituras e às instituições públicas em geral para mudar a maneira como os cidadãos interagem com os serviços públicos. Nesse cenário, a capacidade de se adaptar à tecnologia é fundamental.

Sistemas integrados de gerenciamento, automação de processos burocráticos e comunicação digital são elementos-chave da inovação no setor público. A compreensão profunda dessas ferramentas e a implementação estratégica de soluções inovadoras não apenas otimizam a eficiência dos serviços públicos, mas também fortalecem a relação entre a administração e os cidadãos.

Neste artigo, vamos conferir o que Rafael Figueiredo, CTO do município de Recife, e Robson Galiano, diretor de Operações da Microtarget, pensam sobre como surfar a onda da transformação digital nos governos sem perder de vista a inclusão e a acessibilidade. 

Adaptação à transformação digital

Para não perder a onda da transformação digital nos governos, nas prefeituras e nas demais instituições públicas, é essencial entender como sistemas integrados de gerenciamento podem automatizar processos burocráticos, reduzindo filas e aumentando a eficiência e confiabilidade nos serviços públicos. No entanto, o sucesso desse processo depende significativamente do investimento nas pessoas.

Rafael Figueiredo, CTO do município de Recife, destacou, em sua palestra no GovTech Summit 2023, exemplos internacionais, como Estônia, China, Coreia do Sul e Botsuana, que têm alcançado crescimento econômico notável por meio de investimentos centrados nas pessoas. Esses países servem como inspiração para Recife, indicando que priorizar o desenvolvimento humano é primordial para impulsionar o progresso econômico.

A filosofia de “o cidadão no centro de tudo”

“O cidadão no centro de tudo” é a filosofia que orienta as iniciativas em Recife. Simplificar a relação do cidadão com o município tornou-se um projeto estratégico prioritário. A ideia é liberar os cidadãos de gastarem horas preciosas de seu dia resolvendo problemas com o município.

A receita do sucesso, segundo Figueiredo, está centrada no investimento nas pessoas. Simplificar processos, proporcionar acessibilidade e garantir que os cidadãos possam interagir de maneira eficiente com os serviços municipais são os pilares dessa abordagem. Isso não apenas melhora a eficiência da administração pública, mas também eleva a qualidade de vida da população.

O investimento nas pessoas é a chave para o sucesso na transformação digital. Recife, inspirada por modelos de sucesso ao redor do mundo, vem colocando o cidadão no centro de suas iniciativas, simplificando a relação entre a população e o município e, assim, construindo uma cidade mais conectada, eficiente e centrada nas necessidades dos cidadãos.

A importância da comunicação

Já Robson Galiano, sócio-diretor operacional e de criação da Microtarget, ressaltou em sua palestra no GovTech Summit que a mensagem é crucial: “Não adianta ter o serviço público se a população não sabe que ele existe”. A comunicação eficaz é a ponte necessária para evitar que a população fique fora desse processo de transformação.

Um dado interessante destacado por Galiano é que 82% da população busca serviços públicos no Google, mas frequentemente não encontra as informações desejadas, resultando em avaliações negativas. Isso mostra a importância da presença digital eficaz para os serviços públicos.

Tornando a tecnologia da informação inclusiva

Durante esse processo, surge a preocupação com a inclusão e acessibilidade. Tornar a tecnologia da informação mais inclusiva e eficaz na gestão pública é um desafio que algumas cidades estão abraçando com sucesso, ainda que alguns desafios se evidenciem.

O reconhecimento de que, mesmo com todos os avanços tecnológicos, o atendimento abrange apenas 30% da população ressalta a complexidade da transformação digital em âmbito cultural e reflete não apenas a realidade específica de Recife, mas  também uma verdade mais ampla sobre a adoção da tecnologia na gestão pública.

“Em Recife, com toda a tecnologia, atendemos 30% da população. A gente não vai atender 100% da população agora, é uma questão cultural, que tem que crescer”, enfatiza Galiano.

A mudança de paradigmas e a aceitação generalizada de novas ferramentas e processos demandam tempo e educação. Portanto, sua visão destaca a necessidade de um crescimento gradual e contínuo, evidenciando que a transformação digital é um processo em constante evolução, guiado pela adaptação cultural e pela inclusão de toda a sociedade nesse novo ecossistema tecnológico.

Caso de sucesso em Recife

Recife experimentou uma economia notável de 32 milhões de reais em quatro meses após a implementação de inovações, incluindo o autoservice. Programas como “Atende Gestante” e a introdução da telemedicina demonstram como a tecnologia pode adaptar-se às necessidades específicas da comunidade.

Galiano também salientou um exemplo notável: ao atingir 60 anos em Recife, os cidadãos recebem automaticamente via WhatsApp uma mensagem de parabéns, juntamente com a carteira de meia-entrada, uma plaquinha para estacionamento de idosos e gratuidade no transporte público. Essa abordagem automatizada elimina a necessidade de enfrentar filas, tornando o processo mais eficiente e amigável para os idosos.

O horário de funcionamento da prefeitura pode ser uma barreira para muitos cidadãos, mas a digitalização tem o poder de superar essa limitação. Dos 400 mil usuários, 68% acessaram os serviços após as 18h, demonstrando o impacto significativo na vida das pessoas.

Modelo de fluxo ideal

Galiano destaca um modelo de fluxo ideal baseado em 4 etapas de um funil: ações de convite, canal digital, os 4 Cs (coleta, conversa, conhece e converte) e ativismo, enfatizando o papel crucial das pessoas engajadas na disseminação de informações.

A transformação digital emerge como um catalisador fundamental para a modernização da gestão pública, redefinindo a relação entre governos e cidadãos. Ao abraçar inovações tecnológicas, automatizar processos e priorizar a inclusão digital, cidades como Recife ilustram o potencial de impacto positivo sobre as finanças públicas e a qualidade de vida dos cidadãos.

Priorizar o desenvolvimento humano, simplificar processos e garantir acessibilidade são os alicerces para construir uma gestão pública eficiente e centrada nas necessidades da comunidade. A transformação digital não é apenas um imperativo tecnológico, mas também uma oportunidade estratégica para construir sociedades mais conectadas, transparentes e eficazes, onde a inovação não somente otimiza serviços, mas, ainda, eleva a qualidade de vida de seus cidadãos.

GovTech Summit 2024: conectando inovação e gestão pública

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