Por Aira Franciosi, Head de Gestão da Agência Moove.
Tempo de leitura: 13 minutos

 

Fui provocada a escrever um artigo sobre os desafios na gestão de agências de publicidade, e comecei a escrever sobre gestores e a necessidade de desenvolverem o hábito de pensar nas capacidades – e nas deficiências – de suas empresas com o mesmo cuidado com que pensam nas habilidades das pessoas – já que uma das características de um grande gestor, sempre foi a capacidade de identificar a pessoa certa para a tarefa certa e treiná-la para que se saia bem em suas atribuições. 

Porém, em tempos de pandemia, administrar os impactos da crise econômica tem sido – o que me parece – o maior desafio: se, por um lado, o gestor precisa manter o otimismo, tranquilizar as equipes e tornar o home-office produtivo, por outro lado, o isolamento e a redução no consumo afetando as perspectivas de receita, exigem respostas rápidas e eficientes para garantir a sobrevivência do negócio.  

Gestão e gestor podem se confundir no meu texto, e eu poderia discorrer aqui sobre várias técnicas e ferramentas de gestão, porém, nada me parece tão relevante no momento quanto o papel do gestor enquanto decisor e persona capaz de transformar empresas em grandes e sólidos negócios, mesmo em momentos turbulentos como este que estamos vivendo.

Cito sempre Daniel Goleman, que, aliando a psicologia à neurociência, provou que a consciência das emoções é fator essencial para o desenvolvimento da inteligência do indivíduo. 

Ele notou em suas experiências, que os líderes mais eficazes geralmente tinham um ponto em comum: todos mostravam elevado grau daquilo que se tornou conhecido como inteligência emocional. 

Ainda de acordo com ele, não é o Quociente de Inteligência (QI) e nem são as habilidades técnicas que distinguem um grande líder de um líder apenas bom. É a sua inteligência emocional.

Juntando este momento tenso às dificuldades de projetar o que vem pela frente, penso que a força do(s) gestor(es) é a mola propulsora no processo de construção do novo – do novo momento, das novas rotinas, do novo formato de trabalho, da nova estrutura organizacional – e acredito muito na aplicação da inteligência emocional como ponte para este novo momento. 

Enfim, não me parece possível que se faça a gestão de qualquer negócio, sem a presença de gestores que possuam componentes da inteligência emocional.

Mas, afinal, o que é inteligência emocional? 

Inteligência emocional é um conceito criado por Daniel Goleman e que trata da capacidade de reconhecer e avaliar os seus próprios sentimentos e os dos outros, assim como a capacidade de lidar com eles.

Em resumo, o indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue encarar suas próprias emoções, usá-las em seu favor, e ainda olhar para o outro e para os seus sentimentos. 

Parece difícil, mas a inteligência emocional pode ser desenvolvida, e, neste sentido, listo as 5 habilidades essenciais para o seu desenvolvimento – que foram definidas por Goleman – com algumas dicas e técnicas que poderão auxiliar neste processo.

Habilidade 1 – Autoconhecimento: Conhecer as próprias emoções

Somos seres humanos dotados de sentimentos, e conhecê-los, assim como nossos pontos fortes e fracos, motivações e objetivos, é fundamental no processo de autoconhecimento.

Pessoas com grau elevado de autoconhecimento não são nem críticas nem otimistas em excesso, mas honestas consigo mesmas e com as outras. Sabem que seus sentimentos afetam a si mesmas, aos outros e a seu desempenho profissional. São capazes de trabalhar com clientes exigentes e também de canalizar a raiva para transformá-la em algo construtivo.

Quem tem grau elevado de autoconhecimento sabe aonde vai e por quê, se apresenta com franqueza e capacidade de fazer autoavaliações realistas.

Gosto muito do vídeo que compartilho através do link a seguir. Ele apresenta dicas e exercícios valiosos no processo de conhecer as próprias emoções:

Habilidade 2 – Autocontrole: Controlar as próprias emoções

Além de reconhecermos a existência dos nossos sentimentos, é preciso que saibamos lidar com eles. E, vamos combinar, esta é a parte mais difícil.

O autocontrole nada mais é que uma conversa contínua que temos com nós mesmos. É o componente da inteligência emocional que evita que nos tornemos prisioneiros dos nossos sentimentos.

Quem pratica o autocontrole tem impulsos emotivos como qualquer outra pessoa, mas sempre encontra formas de se controlar e até de canalizar os sentimentos de maneira mais proveitosa.

Encontrei no blog Consultoria Coach algumas dicas que nos ajudam muito a desenvolver o autocontrole e a ter domínio das emoções. É um pouco longo, mas acho que vale a leitura:

Torne-se consciente das suas emoções

Você costuma fugir de situações difíceis? Você sente raiva quando olha para determinadas pessoas? Você fica com ódio quando recebe algumas notícias?

Nos momentos de fortes emoções, procure identificar quais são os seus sentimentos e restaure o seu equilíbrio, concentrando-se em seus valores mais profundos.

Reconheça as suas emoções e procure ver a situação como um todo, pense além desse desconforto momentâneo.

Depois de controlar os seus sentimentos, aja de maneira consciente e alinhada aos seus valores.

Se você tiver dificuldade em identificar as suas emoções, monitore seu corpo para obter pistas sobre como você está se sentindo.

Por exemplo, quando o seu coração aumenta rapidamente os batimentos pode ser um sinal de que você está entrando em um estado de raiva ou ansiedade.

Aguarde 24 horas

Ao invés de responder um e-mail agressivamente ou falar com uma pessoa quando estiver com raiva, recue e tire um dia para absorver a situação.

Mostrar a sua raiva não fará você se sentir melhor. Pelo contrário, isso prolongará e aumentará a sua raiva.

Por outro lado, ao parar um tempo para pensar sobre a situação, você poderá ver as coisas mais claramente.

Ao dar um tempo você se sentirá melhor sobre a situação e poderá elaborar um plano para comunicar melhor os seus sentimentos.

Identifique os seus gatilhos emocionais

Quais são as situações que tiram você do sério? O que faz você perder o controle e reagir de forma agressiva?

Quando você tiver uma reação exagerada ou inadequada, reflita sobre qual foi o gatilho emocional que fez você mudar o seu comportamento.

Este gatilho emocional pode ser uma palavra que você ouviu, ou um comportamento da outra pessoa ou até mesmo um pensamento seu.

Depois de identificar o gatilho, pense em maneiras como você pode reagir de forma diferente, alterando seu comportamento e suas emoções.

Você ficará surpreso, ao plantar em seu cérebro modos diferentes de lidar com uma situação potencialmente difícil, assim você criará opções de reações positivas.

Na próxima vez que passar pelo mesmo gatilho emocional, é possível que você não mude o seu comportamento, mas estará consciente e, com a repetição será capaz de mudar a sua reação no futuro.

Planeje com antecedência

Considere possíveis situações que possam quebrar sua estabilidade emocional. Essas situações podem ser uma reunião importante, um encontro embaraçoso ou até uma tarefa que você acha ruim.

Em seguida, busque mudar o seu padrão emocional pensando nas coisas boas que estão relacionadas a essas situações e faça um planejamento de como você irá se comportar.

Pesquisas descobriram que planejar com antecedência pode melhorar a sua força de vontade, mesmo em situações indesejadas.

Concentre-se em um objetivo de cada vez

Definir muitas metas de uma só vez é geralmente uma abordagem ineficaz. Esgotar sua força de vontade em uma área pode reduzir o autocontrole em outras áreas.

Por isso, é melhor escolher um objetivo específico e concentrar sua energia e ações nele.

Depois de atingir esse objetivo e mudar os seus hábitos, você não precisará dedicar tanto esforço para mantê-los.

Neste momento, você pode então usar seus recursos para alcançar outros objetivos e assim por diante.

Pratique a atenção plena

A atenção plena envolve ter consciência do momento presente através de exercícios práticos, como a respiração profunda e meditação.

Ao aumentar a sua atenção plena, você será capaz de controlar melhor as suas emoções, pois estará mais focado no momento presente.

Diversos estudos e pesquisas já demonstraram que a atenção plena tem um efeito positivo sobre as nossas emoções.

Quando vivemos o presente nos afastamos de pensamentos negativos e utilizamos mais o pensamento lógico.

Mude o seu padrão de pensamento

Reavaliação cognitiva é outra estratégia que pode ser usada para melhorar as suas habilidades de autocontrole. Essa estratégia envolve mudar seus padrões de pensamento.

Especificamente, a reavaliação cognitiva significa pensar sobre uma situação de outro ângulo que possa reduzir as emoções negativas.

Por exemplo, imagine que um amigo não retornou suas ligações ou mensagens por vários dias. Em vez de pensar que isso refletia algo negativo, como “meu amigo me odeia”, você pode pensar: “meu amigo deve estar muito ocupado”.

Algumas outras estratégias úteis para a autorregulação incluem aceitação e solução de problemas. Mas tome cuidado, existem também estratégias inúteis que as pessoas, às vezes, usam que incluem evitação, distração, supressão e preocupação. Fugir nunca é a melhor solução.

Busque ver o todo

Estudos demostraram que o pensamento abstrato e global aumenta o propósito e o autocontrole.

Ou seja, as pessoas são mais propensas a exercer autocontrole quando veem a floresta como um todo, em vez de focar somente nas árvores.

Quando as pessoas ficam presas às tarefas específicas, as ações passam a não fazer muito sentido e a chance de você perder o controle e vontade é maior.

Por exemplo, ao trabalhar em um projeto de longo prazo, é fácil ficar frustrado com a quantidade de pequenas etapas necessárias para chegar até a conclusão.

Em vez de focar somente nas etapas, você deve se lembrar periodicamente do objetivo final e medir o seu avanço.

Desta forma, é mais provável que você tenha motivação para continuar se desenvolvendo e trabalhando nas etapas.

Por isso, ao iniciar a sua jornada de desenvolvimento de autocontrole, lembre regularmente sobre os benefícios que você terá ao controlar melhor as suas emoções e comemore os pequenos avanços para evitar o desânimo.

Habilidade 3 – Motivação

A motivação é a força interna que te empurra na direção das suas metas, objetivos e sonhos. E por que a motivação é importante? Sem ela, é impossível atingir qualquer objetivo. Por mais que se queira determinada carreira, formação ou conquista pessoal, sem a motivação não existe ação. E como você certamente sabe, a ação é essencial: não basta desejar, é preciso correr atrás. 

Os profissionais motivados são orientados a superar expectativas e, geralmente, demonstram paixão pelo trabalho: buscam desafios criativos, adoram aprender e se orgulham de trabalhos bem-feitos. Costumam continuar otimistas quando não vão bem, e, nesses casos, o autocontrole se associa à motivação para superar a frustração e a tristeza decorrentes de um revés ou fracasso.

A motivação se mostra através do comprometimento. Quando as pessoas amam o que fazem, em geral se sentem comprometidas com a organização que possibilita isso. 

Habilidade 4 – Empatia

Todos sabemos que empatia é a habilidade de se colocar no lugar do outro. 

Porém, no mundo dos negócios, raramente ouvimos as pessoas elogiarem a empatia, mas, ter empatia não significa ser sentimentalista. Também não significa levar em conta as emoções alheias e tentar agradar a todos. Significa estar atento aos sentimentos da equipe, dos clientes, dos parceiros comerciais, no processo de tomada de decisões inteligente.

É muito difícil aprender a sentir empatia, pois trata-se de um sentimento genuíno. No entanto, podemos exercitá-la constantemente. Olha só que vídeo interessante! Ele apresenta algumas técnicas bem legais que irão nos ajudar a ter mais empatia:

 

Habilidade 5 – Relacionamentos interpessoais 

Desenvolver a habilidade de relacionar-se interpessoalmente não é tão fácil quanto parece, pois não se trata de uma simples questão de cordialidade. É uma cordialidade com propósito: fazer as pessoas seguirem na direção que você deseja – e de um jeito especial de chegar a um consenso com pessoas de todos os tipos.

O conceito de relacionamentos interpessoais em um meio corporativo está associado à conduta profissional diante de crises, conflitos, superação de obstáculos e da forma que ele lida com diferentes perfis. 

Pode-se dizer que a habilidade de cultivar bons relacionamentos requer autoconhecimento, autocontrole e empatia para lidar com divergências de ideias, posicionamentos, percepções, valores, personalidades e objetivos. 

Por fim, preciso dizer que desenvolver a inteligência emocional, obviamente, não é um processo fácil, pois leva tempo e exige muito comprometimento, mas, como diz Goleman, “os benefícios de ter uma inteligência emocional bem desenvolvida, tanto para o próprio líder quanto para a organização, fazem o esforço valer a pena”.

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