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Influenciadores e governos: um caminho para aproximar o cidadão dos serviços públicos?

Uma imagem em preto e branco de um homem gravando um vídeo em frente a um celular em um tripod.

Mesmo antes da era digital, era comum surgirem movimentos por meio dos quais as pessoas pressionavam os governos para participar das suas decisões. Ao mesmo tempo, os governos encabeçavam iniciativas para levar informações, mobilizar e incentivar os cidadãos em diferentes ações de saúde, de educação, de trânsito e nas áreas econômica ou tributária.

Na última década, especialmente, a interação entre governo e cidadão intensificou-se, e os governos digitais abriram uma importante porta para estreitar essa relação e dar voz às pessoas. Apesar das ferramentas e dos canais disponíveis, ainda é pequena a participação popular. Muitos cidadãos visitam os sites apenas para obter informações confiáveis e uma parcela expressiva das comunidades desconhece a estrutura digital disponível.

Agentes de informação

Para superar essa barreira, os governos podem contar com os influenciadores, cuja representatividade em segmentos ou comunidades pode ser uma forma de motivar as pessoas a procurar informações e tomar consciência do que está acontecendo no governo, além de defender seus direitos e mostrar os passos para participar de políticas e programas públicos.

Em outras palavras: os influenciadores digitais podem ser agentes de informação dos governos, sendo um caminho para aproximar as pessoas do poder público e dos serviços governamentais.

O país dos influenciadores digitais

Atualmente, o Brasil é considerado o país dos influencers. De acordo com estudo da Nielsen, somos campeões mundiais em número de influenciadores digitais, na categoria Instagram. São 10,5 milhões, com pelo menos 1 mil seguidores cada um, em média. A pesquisa considerou postagens feitas entre novembro de 2021 e abril de 2022, nas plataformas Instagram, TikTok e YouTube. 

O estudo projeta uma expansão no setor de 53% até este ano . Grandes agências de publicidade e as maiores empresas do país já criaram departamentos específicos para lidar com os influenciadores.

Considerando o Instagram, TikTok e YouTube, o Brasil fica em segundo lugar, perdendo apenas para os Estados Unidos, com 13,5 milhões de influencers. Esta turma destemida e aparentemente irrefreável determina o que milhões de pessoas vão consumir e influencia as suas visões de mundo agora e no futuro.

Outro levantamento, das agências Hootsuite e We Are Social, mostrou que somos o segundo país que mais segue influenciadores (44,3% dos usuários da internet), atrás das Filipinas (51,4%), à frente de outras nações emergentes.

Os principais tipos e categorias de influenciadores

Proposta para regulamentar a profissão

No Brasil, no final de agosto, foi apresentado o PL 2.347/2022 à Comissão de Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara dos Deputados, que propõe a regulamentação da profissão de influenciador digital. Se o PL passar, algumas exigências serão feitas para quem quiser virar influenciador, como o cadastro exigido pelo governo federal, que irá permitir (ou não) que os produtores de conteúdo exerçam suas atividades. Também deverá ser solicitado “conhecimento técnico” para que os profissionais possam falar sobre determinados assuntos e sejam classificados como influenciadores.

Em 2018, o deputado federal Eduardo da Fonte (PP-PE) iniciou a tramitação de um PL para regulamentar o ofício de influenciador digital. Na época, o documento foi arquivado por falta de conteúdo. O novo PL em tramitação é o resgate desse texto, com algumas ressalvas, principalmente a de diferenciar a profissão de influenciador digital da de jornalista. Impuseram deveres de respeito aos influenciadores, como o direito autoral e intelectual, o de imagem, o direito à honra e à imagem e o direito de respeitar grupos étnicos, raciais e sociais.

“Como a própria designação indica, essa atividade vem acompanhada da capacidade de influenciar as opiniões e os comportamentos das pessoas que assistem ou acompanham esses influenciadores. Isso gera uma grande responsabilidade. Por esse motivo, consideramos oportuna a regulamentação dessa profissão, de forma a estabelecer um marco legal adequado ao seu exercício”, justificou um trecho do documento.

Novo mercado à vista?

Diante disso, por que não usar os influenciadores digitais para espalhar rapidamente informações e conteúdos sobre direitos e serviços, divulgar roteiros turísticos ou apoiar boas causas sociais? Atualmente, muitas pessoas estão se voltando para essas atividades, pois novos orçamentos de marketing e publicidade são criados em todo o mundo na busca de oportunidades para promover produtos e serviços patrocinados.

Soma-se a isso o fato de que, entre os membros de gerações mais jovens, há um desejo de se associar a marcas, produtos e serviços que tenham impacto social. De acordo com estudo da empresa de marketing de influência Markerly, sediada em Austin (Texas), 52% dos influenciadores postaram #BlackLivesMatter; 56% trabalharam ou trabalhariam com causas e organizações sem fins lucrativos em que acreditam com desconto ou de graça; e 58% postaram conteúdo educacional e de apoio e recursos em torno do coronavírus.

Marcas com causas

Há espaço para os influenciadores se aproximarem dos governos e das organizações sociais. Outro ponto indicado pela pesquisa é que a Geração Z e os Millenials não querem se envolver com marcas ou influenciadores que não representem alguma causa. Muitos deles também enxergam o setor público como estruturas pesadas, ineficientes, como dinossauros e sem rosto. Então, em vez de tentar falar com a voz deles, por que não usar alguém que o faça naturalmente?

Ainda assim, as organizações públicas e do terceiro setor nem sempre consideram confortável considerar uma abordagem de marketing de influência, já que esse tipo de estratégia é fortemente centrada no setor privado.

Influenciadores em ação

Há exemplos de experiências em que os influenciadores estão alavancando serviços governamentais. Nos Estados Unidos, o Departamento de Serviços de Saúde do Texas utilizou postagens patrocinadas nas mídias sociais com nomes como o quarterback do Baltimore Ravens, Robert Griffin III, e a ginasta olímpica Nastia Lukin para espalhar mensagens de saúde pública durante a quarentena por conta da Covid-19.

No Piauí, influenciadores digitais locais e nacionais foram convidados a visitar cidades turísticas, obtendo resultados expressivos no aumento das buscas por destinos no estado do Nordeste brasileiro. Os atrativos turísticos foram contemplados em quatro roteiros: natureza, aventura, litoral e religioso. O objetivo da ação foi incentivar os turistas a visitarem o Piauí, bem como os próprios piauienses a conhecerem o que o estado tem a oferecer.

Em Canoas, durante o temporal ocorrido em agosto deste ano, a Prefeitura, cliente da Moove, veiculou nas redes do Canoas 1000 Grau relatos sobre as ações e as medidas para apoiar as regiões atingidas pelos estragos. 

Efeitos na comunicação

Portanto, há inúmeras possibilidades no setor público para as pessoas que difundem opiniões, têm diálogo aberto com diferentes segmentos e gerações e são inovadoras. Nessa caminhada, é preciso que os influenciadores tenham noção da imensa responsabilidade que têm sobre milhares de seguidores. Se fizerem um trabalho com informação relevante e tiverem comprometimento com a informação correta, estarão abrindo novos mercados e tornando os serviços mais próximos dos cidadãos. Os governos terão muito a ganhar com sua capacidade de se comunicar efetivamente com o público.