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Como os governos podem melhorar a eficiência de suas decisões por meio dos dados

A sociedade contemporânea está imersa em uma era de constante evolução tecnológica. A transformação digital se tornou um conceito central, com impacto que pode ser visto na comunicação, por exemplo, que se tornou mais instantânea e global. Nos negócios, empresas têm adotado tecnologias digitais para melhorar seus processos, produtos e serviços e, inclusive, criar novos modelos de negócios. 

Já na saúde, a telemedicina e o uso de dispositivos médicos conectados à internet estão transformando a prestação de serviços. Os pacientes podem realizar consultas médicas remotamente, monitorar sua saúde em tempo real e acessar informações médicas com facilidade. A transformação digital também impactou a forma como as pessoas aprendem, através da expansão da educação online, de recursos digitais e plataformas de aprendizado.

Outra esfera importante da sociedade que foi impactada pelos avanços tecnológicos é a da administração pública. A transformação digital no setor público significa a transição de um modelo operacional convencional, manual e, muitas vezes, ineficiente, para ambientes integrados, ágeis e interconectados. Tudo isso com o propósito de aprimorar a prestação de serviços públicos, modernizar o setor, garantir maior transparência e promover a participação cidadã. 

Esse processo de transformação do setor público trouxe consigo uma pergunta importante: como os governos podem aproveitar as plataformas de dados para promover o desenvolvimento social? Neste texto, exploraremos essa questão, começando com uma análise da transformação digital na administração pública.

Transformação digital nos governos: o novo paradigma administrativo

A incorporação da transformação digital no setor público ainda enfrenta desafios em todo o mundo. Isso ocorre porque, embora a tecnologia esteja disponível, frequentemente as estratégias para sua implementação não são eficazes – é necessária também uma estratégia de governo digital para alcançar os resultados esperados. 

O ponto crucial está na forma como essas tecnologias são aplicadas, uma vez que as ferramentas por si só não são a solução para todos os problemas. Portanto, a implementação da tecnologia deve ser acompanhada de estratégias mais dinâmicas e inteligentes, as quais promovam uma mudança cultural, com foco na educação de servidores públicos e da população. 

A transformação digital é um processo contínuo, disruptivo, estratégico e cultural, que depende fortemente da sistematização, da análise de dados e do uso de tecnologias digitais para gerar resultados positivos, tanto para as pessoas quanto para a economia. A seguir, apresentamos como a Dinamarca tornou-se o país mais digital do mundo. 

Henne Strand, Syddanmark, Denmark, Scandinavia, Europe

Dinamarca: o país mais digital do mundo

Segundo a Organização das Nações Unidas, a Dinamarca ocupa a liderança de país mais digital do mundo, como mostra o relatório Digital Government in the Decade of Action for Sustainable Development. O levantamento da ONU conduz uma análise do Índice de Desenvolvimento de Governo Digital (EGDI, em inglês) dos 193 Estados-membros.

A Dinamarca iniciou sua transformação digital governamental em 2001, com a criação de uma equipe dedicada a tornar o setor público mais eficiente. Isso levou à criação da Agência de Digitalização, a qual introduziu várias soluções digitais na vida cotidiana dos dinamarqueses. Em 2007, eles lançaram o NemID, uma identidade digital usada por quase todos os adultos do país. Essa identificação não apenas fornece acesso a serviços públicos, mas também a serviços privados, como agendar consultas médicas ou reservar horários no cabeleireiro. Até 2022, o NemID era utilizado por 85% da população.

Todo esse progresso só foi possível graças ao apoio e à participação ativa da população, que é a principal beneficiária dessa revolução tecnológica. Isso se deve, em grande parte, ao alto nível de transparência do governo na Dinamarca. De acordo com o estudo eGovernment Benchmark, a transparência do governo dinamarquês supera em 10% a média da União Europeia em geral. Esse índice aumenta para 15% quando se trata de prestação de contas e chega a 23% no processamento de informações pessoais.

Uma parte crucial da transformação digital do país se deve a uma extensa campanha de divulgação, bem como a programas de ensino, focados principalmente em ajudar grupos que possam ter dificuldades com o uso da tecnologia, como idosos, pessoas com deficiência e refugiados, entre outros. O governo também colabora com ONGs e organizações para promover a alfabetização digital.

Outro fator importante para o sucesso da revolução tecnológica do governo é a alta maturidade digital da Dinamarca. Ter condições ambientais para que o ecossistema tecnológico possa se desenvolver é crucial neste processo, como a conectividade, por exemplo. Estima-se que 97% dos dinamarqueses têm acesso à internet, e 94% das casas têm acesso a redes de alta capacidade. Nas áreas rurais, a cobertura é de 70,9%. 

Portanto, podemos concluir que a transformação digital depende, em primeiro lugar, da disponibilização de ferramentas tecnológicas e da criação de estratégias sólidas de implementação digital. Além disso, depende da confiança dos cidadãos na adoção das soluções propostas pelo governo, o que só acontece quando a administração pública é transparente. A colaboração entre o setor público e o privado em benefício da população também desempenha um papel fundamental. 

Por fim, é essencial oferecer programas de alfabetização digital para aqueles que se beneficiarão dos avanços tecnológicos e garantir que existam condições adequadas, como conectividade, para que o ecossistema digital possa prosperar.

Plataformas de dados para o desenvolvimento social

As plataformas de dados desempenham um papel crucial na transformação digital governamental. Elas permitem a coleta, análise e compartilhamento de informações em tempo real, capacitando os governos a tomar decisões informadas e aprimorar a qualidade dos serviços prestados à população.

Cássio Brandão, Head de Negócios Governamentais no Google, apresentou um exemplo do uso de plataformas de dados durante sua palestra no GovTech Summit, destacando o caso do governo de São Paulo. O ápice da epidemia de sarampo ocorreu entre junho e julho de 2022, enquanto a campanha de conscientização sobre a disponibilidade da vacina nos postos de saúde só foi lançada na televisão no final de setembro, quase em outubro. Cássio questiona se não seria mais eficaz iniciar uma comunicação direta logo, informando de imediato sobre a disponibilidade das vacinas nos postos de saúde. 

Isso demonstra a necessidade de uma gestão mais eficiente por parte do poder público. Além disso, este caso é emblemático porque, no final das contas, sobraram vacinas nos postos, tendo que ser distribuídas posteriormente. Isso não se trata apenas de uma questão de comunicação, mas também de uma gestão mais eficaz por parte das autoridades públicas, que têm o potencial para serem altamente eficientes e impactantes. Cássio é claro ao falar sobre dados na gestão pública: “Meu feeling diz que isso, meu feeling diz que aquilo, a gente respeita o feeling de todo mundo. Mas vamos olhar para os dados, vamos pegar os dados e vamos  entender o que os dados nos dizem e trabalhar em cima deles”. 

Um exemplo inovador do uso de plataformas de dados é a colaboração entre o Google e o Ministério da Educação. Nesse projeto, todas as matérias do ensino médio foram relacionadas com as perguntas feitas ao Google. A partir dessa análise, foi possível estabelecer correlações e antecipar as notas do Enem por Estado, chegando até mesmo em nível de cidades. Por exemplo, quando há um aumento nas buscas por dúvidas em matemática em determinada região, pode-se cruzar esses dados com as notas de matemática no Enem e observar que as notas nessa área onde houve maior interesse tendem a ser mais baixas. Isso permite que o Estado e a Secretaria de Educação atuem proativamente no próximo ciclo, implementando medidas para melhorar o desempenho nessa matéria e, consequentemente, no Enem.

Assim, chega-se à conclusão de que estamos diante de uma oportunidade única para reimaginar a comunicação entre o governo e a população, e para desenvolver políticas públicas com base nas necessidades diárias que os cidadãos buscam na internet. O cidadão está no epicentro de todas as ações, e é a partir da sua perspectiva que devemos agir. 

A comunicação não deve ser concebida apenas pelo governo, mas sim para o governo se dirigir ao cidadão, com este último desempenhando um papel fundamental na definição do rumo das políticas públicas. É fundamental que coloquemos o cidadão no centro de todas as decisões, pois, sem esse foco, corremos o risco de não evoluir de maneira eficaz na tão discutida transformação digital.

O papel da participação do governo na era digital

O papel inicial do governo na era digital começa com a formulação de políticas públicas que levam em consideração as enormes quantidades de dados disponíveis. Isso inclui a coleta, análise e uso de dados para embasar a tomada de decisões políticas. Garantir a coleta ética e segura de dados, assim como promover a transparência no uso dessas informações também fazem parte das responsabilidades governamentais, exigindo a criação de estruturas regulatórias e a supervisão da conformidade com essas políticas.

O governo também desempenha um papel de catalisador na promoção da colaboração entre diferentes partes interessadas, incluindo o setor privado e a sociedade civil. Empresas e organizações da sociedade civil que possuem acesso a fontes de dados exclusivos podem enriquecer a coleta de dados governamentais, e é nesse contexto que o governo pode atuar, estabelecendo parcerias com essas partes.

A participação do governo não se restringe apenas à coleta e análise de dados. Embora essa etapa seja muito importante, é essencial também saber o que fazer com esses dados, criando e implementando políticas que tenham um impacto real no desenvolvimento social. Isso implica em usar estrategicamente os dados coletados e analisados para a melhoria dos serviços públicos, o aprimoramento da eficiência governamental e a solução de problemas sociais.

Saiba mais sobre governos digitais com o GovTech Summit

O GovTech Summit 2023 ocorreu nos dias 15 e 16 de junho, atraindo mais de mil participantes que se reuniram no Nau Live Spaces, em Porto Alegre, ao longo desses dois dias. O evento contou com a presença de 23 expositores e 44 palestrantes, compartilhando conhecimentos e experiências inspiradoras.

Esse evento representou um marco para a área de GovTech no sul do país, sendo o primeiro sobre o tema realizado no Rio Grande do Sul. Assim, o GovTech Summit ajudou a  criar conexões com renomados especialistas em inovação e tecnologia aplicada ao setor público.

Entre os participantes do GovTech Summit, estiveram o Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, o Prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, a CEO da startup norte-americana GLASS, Paola Santana, bem como o cofundador e CEO do BrazilLAB, o primeiro hub de inovação GovTech no Brasil, Guilherme Dominguez, além de outros especialistas.

Quer fortalecer o ecossistema GovTech do Rio Grande do Sul? Acompanhe o GovTech Summit para ter acesso às informações mais relevantes, artigos, notícias e muito mais.